O coração é um componente tão importante do corpo que, desde bem pequenos, ouvimos falar sobre sua importância e até aprendemos que ele bate mais forte ao vermos uma pessoa querida. Conforme crescemos, começamos a nos preocupar com a saúde cardiovascular e adotamos hábitos que façam bem ao músculo cardíaco. Mas você sabia que muitas pessoas já nascem com doenças cardíacas? As chamadas cardiopatias congênitas atingem cerca de 130 milhões de crianças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e podem ser fatais quando não tratadas.
A Dra. Áurea Grippa, responsável pela Cardiologia e Cirurgia Cardíaca Pediátrica do CHN, explica o que é cardiopatia congênita, quais são os sintomas dessa condição e os tratamentos adotados hoje.
O que é cardiopatia congênita?
As cardiopatias congênitas são um conjunto de malformações que surgem durante o desenvolvimento fetal que impactam na anatomia e no funcionamento do coração. Pode ser um problema pequeno sem grandes repercussões ou até o estreitamento de uma artéria, que causa insuficiência de circulação sanguínea naquele local.
No Brasil, a cada mil bebês dez nascem com alguma doença cardíaca. Esse dado faz da cardiopatia congênita o principal motivo de óbitos de recém-nascidos com até 30 dias de vida.
O que provoca a cardiopatia congênita?
As principais causas da cardiopatia congênita têm relação com o histórico da mãe ou com a presença de síndrome genética no bebê. Por exemplo, se a progenitora teve cardiopatia congênita, há risco de a criança também desenvolver o quadro. Caso ela já tenha um filho com doenças cardiovasculares, o risco é ainda maior.
“Na síndrome de Down, cerca de 60% das crianças nascem com algum problema cardiovascular, assim como em outras síndromes, como a de Edwards e de Patau, a ocorrência também pode ser maior", declara a especialista. Outros fatores maternos que contribuem para malformações no coração do bebê incluem:
- Diabetes tipo 1;
- Diabetes gestacional;
- Hipotireoidismo;
- Hipertensão;
- Uso de substâncias ilícitas durante a gestação;
- Lúpus;
- Rubéola, sífilis e outras infecções.
Quais são os principais tipos de cardiopatia congênita?
A Dra. Áurea explica que as cardiopatias congênitas atingem cerca de 1% das crianças nascidas vivas. Os tipos de cardiopatia congênita são divididos em cianóticos, que causam uma coloração azul-arroxeada em partes do corpo do bebê, e acianóticos, que não causam essa mudança na cor da pele. As principais alterações cianóticas são:
- Tetralogia de Fallot – grupo de quatro alterações estruturais que atingem ventrículos, aorta ou artérias pulmonares;
- Transposição das grandes artérias – as principais artérias do coração estão em lados opostos, no caso, a aorta sai do ventrículo direito e a artéria pulmonar, do ventrículo esquerdo;
- Atresia pulmonar – ausência da válvula ou da artéria que leva sangue para os pulmões;
- Anomalia de Ebstein – mau funcionamento da válvula tricúspide por causa de sua posição errada.
Já as acianóticas mais frequentes são:
- Comunicação interventricular – orifício na parede que divide os ventrículos (câmaras que bombeiam o sangue) direito e esquerdo;
- Comunicação interatrial – orifício na parede que divide os átrios (câmaras que recebem o sangue para passá-lo aos ventrículos) direito e esquerdo;
- Persistência do canal arterial – um conduto que é necessário no útero e deve se fechar após o nascimento; é comum permanecer aberto em prematuros;
- Coarctação de aorta – estreitamento da maior artéria do corpo, a aorta.
Quais são os sintomas de cardiopatia congênita?
Nem toda criança que nasce com cardiopatia congênita apresenta sintomas logo nos primeiros dias; em alguns casos, a doença pode levar até anos para se manifestar.
“As consultas com o pediatra são fundamentais para acompanhar o desenvolvimento do bebê de modo geral e detectar qualquer indício que possa surgir posteriormente", explica a Dra. Áurea.
Fique atento aos seguintes sinais:
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Bebê que não quer mamar ou mama pouco;
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Cansaço;
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Choro incessante;
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Criança pálida depois de atividades físicas ou brincadeiras mais intensas;
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Desmaio;
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Dificuldade ou esforço para respirar;
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Dificuldade para ganhar peso;
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Irritação;
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Pontas dos dedos, lábios ou língua arroxeados;
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Taquicardia.
Como é feito o diagnóstico?
O pré-natal monitora a saúde da gestante e o desenvolvimento do bebê, o que permite identificar alterações ainda durante a gravidez com base em exames como o ecocardiograma fetal, feito entre a 21ª e a 28ª semana. Assim que a criança nasce, o teste do coraçãozinho mede os batimentos cardíacos e a oxigenação sanguínea. Para isso, a equipe de enfermagem utiliza um oxímetro no braço direito e outro no pezinho do recém-nascido. A saturação precisa ser maior ou igual a 96% e a diferença entre o membro superior e o inferior não pode ser maior que 3%. Caso a variação persista, ele precisará passar por um ecocardiograma para avaliar o funcionamento do coração.
“Se o exame confirmar a presença de alguma cardiopatia, o bebê será encaminhado para a UTI neonatal, onde terá acompanhamento ininterrupto e integral", completa a médica.
Cardiopatia congênita tem cura?
A Dra. Áurea Grippa explica que muitas cardiopatias congênitas têm cura e algumas até se resolvem espontaneamente, como as pequenas comunicações entre átrios ou ventrículos. O cateterismo com implante de pequenos dispositivos pode proporcionar cura para muitos defeitos cardíacos. Porém, para alguns casos, uma ou mais cirurgias são necessárias para corrigir ou melhorar o fluxo sanguíneo no coração.
Tratamento
O tratamento da cardiopatia congênita varia de acordo com o tipo de alteração e o estado de saúde da criança. Além do uso de medicamentos, pode haver indicação para cateterismo e, em grande parte dos casos, o paciente passará por, pelo menos, uma cirurgia cardíaca ao longo da vida. De qualquer forma, o diagnóstico precoce possibilita que as medidas terapêuticas sejam iniciadas o quanto antes. “Isso evita a evolução para um quadro em que não seja possível impedir complicações que atinjam, inclusive, outras áreas, como o sistema neurológico", comenta a médica.
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