Quem nunca sentiu as mãos formigarem depois de dormir numa posição ruim? É normal apresentar essa sensibilidade depois de muito tempo parado em uma mesma postura. Nesse caso, para resolver, basta se movimentar um pouco para que o corpo aqueça, o sangue circule e tudo volte ao normal. A parestesia – termo médico para esse fenômeno – é muito comum e pode ser causada simplesmente por má circulação sanguínea. Porém, quando essa sensibilidade se torna recorrente, o mais indicado é buscar avaliação médica, pois o sintoma pode estar relacionado com problemas neurológicos.
Principais causas
A sensação de formigamento pode aparecer em diversas situações do dia a dia e não apresentar risco algum à saúde. No entanto, não existe apenas um agente causador dessa “dormência" e, caso ela perdure, é preciso acender o alerta para a possibilidade de um problema mais sério, causado por alterações neurológicas. Veja abaixo alguns exemplos de distúrbios que provocam o formigamento nas mãos:
- hipertensão;
- hérnia de disco;
- ansiedade;
- diabetes;
- doenças circulatórias;
- enxaqueca;
- Acidente Vascular Cerebral (AVC);
- esclerose múltipla;
- hipotireoidismo;
- deficiência de vitaminas;
- síndrome do túnel do carpo;
- síndrome de Raynaud;
- estenose espinhal;
- polineuropatia;
- parestesia crônica.
É natural que, em um primeiro momento, o paciente busque um cirurgião vascular. No entanto, o formigamento nas mãos nem sempre é causado pela falta de sangue naquele membro. No caso da síndrome do túnel do carpo (STC), por exemplo, é necessário consultar um neurologista.
Doenças neurológicas que provocam o sintoma
De acordo com o Dr. Marcus Tulius, neurologista do CHN, além das mãos, também é comum que os pés sejam acometidos por esse incômodo. “Na neuropatia diabética, o mais comum é o formigamento nos pés. O principal exame que usamos na avaliação desse quadro é a eletroneuromiografia, em que aplicamos eletrodos nos braços e nas pernas do paciente, a fim de avaliar o funcionamento dos nervos periféricos", explica o médico.
Além disso, o profissional também chama atenção para a polineuropatia (acometimento de vários nervos periféricos). Confira alguns dos agentes causadores dessa condição:
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polineuropatia amiloidótica familiar – condição hereditária e degenerativa que afeta a sensibilidade da pele e causa dores fortes nos membros inferiores e superiores;
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hanseníase – doença infecciosa crônica que começa como pequenas manchas despigmentadas. Aos poucos, o local afetado perde a sensibilidade e a capacidade de transpiração. Antigamente era chamada de lepra;
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neuropatia alcoólica – comprometimento dos nervos periféricos em razão do uso crônico de bebida alcoólica;
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insuficiência renal – condição na qual os rins perdem a capacidade de efetuar suas funções básicas;
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neuropatia tóxica – pode ocorrer em pacientes oncológicos por causa do uso de quimioterápicos;
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carência de vitamina B12 – em quadros mais leves, leva à anemia, palidez e fraqueza. Quando mais severa, enfraquece os nervos, causando formigamento ou perda de sensibilidade nas mãos e nos pés, fraqueza muscular, perda de reflexos, dificuldade de andar, confusão e demência;
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síndrome de Guillain-Barré – doença autoimune em que o sistema imunológico ataca os nervos e pode levar à paralisia.
O que é síndrome do túnel do carpo e como se manifesta?
O corpo humano é um complexo sistema que se conecta por meio de ossos, ligamentos, músculos e veias. O que liga nossas mãos aos punhos, por exemplo, é uma estrutura chamada túnel do carpo, formada por ossos, pelo nervo mediano – responsável pela sensibilidade dos polegares, dos indicadores, dos dedos médios e de parte dos anelares – e por tendões.
A síndrome do túnel do carpo (STC) se caracteriza pela compressão desse nervo de modo a causar dor, formigamento e falta de força nas mãos. Não há um fator único para seu desenvolvimento, pois qualquer situação que aumente a pressão dentro do canal interfere também no mediano. Apesar disso, é possível destacar a lesão do esforço repetitivo (LER) como o principal agente causador da STC.
A parestesia causada pela condição pode se irradiar para o antebraço, o cotovelo e até os ombros. Por conta da falta de sensibilidade, o paciente pode não conseguir distinguir se algo é quente ou frio, bem como não ser capaz de segurar objetos por causa da fraqueza nas mãos. Em estágios avançados, o polegar também pode ficar incapacitado por conta da atrofia dos músculos.
Apesar de bastante séria, o Dr. Marcus explica que é possível tratar a condição de forma clínica, por meio do uso de medicamentos. Em casos mais complexos, é preciso recorrer à intervenção cirúrgica com o objetivo de, por meio de uma pequena incisão no punho, abrir o túnel para alargar a passagem para o nervo mediano. Esse procedimento é rápido e pode ser realizado no esquema de day clinic por um neurocirurgião, ortopedista ou cirurgião plástico (esses últimos desde que especialistas em cirurgia de mão).