Quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, pouco se sabia sobre esse novo vírus e existiam muitas incertezas sobre seus impactos na vida das pessoas. Enquanto a população buscava orientações sobre o que fazer e como cuidar da saúde, os médicos se reinventavam para priorizar a segurança dos pacientes - incluindo os oncológicos, que precisavam dar continuidade ao tratamento.
Segundo o dr. Victor Araujo Machado, oncologista clínico do CHN, no início da pandemia as orientações das sociedades médicas eram adiar as cirurgias não essenciais, adaptar os tratamentos para reduzir a frequência das idas dos pacientes às clínicas e laboratórios e evitar o uso de medicações que pudessem causar imunossupressão., assim como evitar procedimentos que pudessem aumentar desnecessariamente o tempo de permanência nos hospitais.
"Essas e outras medidas foram eficazes em reduzir os riscos de contaminação para os nossos pacientes, ao mesmo tempo que traziam pouco ou nenhum prejuízo ao tratamento. Outro aspecto positivo foi a incorporação da teleconsulta à rotina de trabalho dos profissionais de saúde"
Uma grande parte dos pacientes oncológicos faz apenas consultas de rotina para acompanhamento ou tratamentos com poucos efeitos adversos, que podem ser acompanhados à distância pela equipe médica. A telemedicina se enquadra perfeitamente nesse cenário, veio para ficar e será sempre uma opção importante de agora em diante.
Tudo levava a crer que as adaptações seriam adotadas por pouco tempo, mas a pandemia se prolongou mais do que o imaginado e o medo de sair para procurar atendimento ou realizar exames teve seus efeitos adversos. Acarretou a queda no número de exames de rastreio para detectar os tumores em estágio inicial – por exemplo as mamografias, o preventivo ginecológico e as colonoscopias. Estudos demonstram que, após a chegada do vírus, a redução no número de biópsias para o diagnóstico de câncer pode chegar a 40%, quando comparado ao período pré-pandemia.
Isso significa que muitos pacientes estão adiando os exames e procedimentos que deveriam fazer, o que contribui para um diagnóstico do tumor em estágios mais avançados e com menos chances de cura. Segundo o dr. Victor, o diagnóstico numa fase inicial pode evitar cirurgias maiores e tratamentos mais agressivos, como a quimioterapia.
O que deve ser feito para preservar a saúde do paciente durante a pandemia?
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não adiar consultas com o oncologista e conversar sobre suas preocupações e receios, ele saberá orientar sobre adaptações no tratamento e quais exames são prioridade;
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não tome remédios sem comprovação científica de que funcionam, eles podem prejudicar o quadro clínico;
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seguir as medidas de prevenção da Covid-19, incluindo distanciamento social, higienização das mãos, uso de máscaras e vacinação, assim que disponível.
A vacina é segura para os pacientes oncológicos e vacinar-se é fundamental para reduzir a chance de complicações pelo coronavírus. Pacientes com imunossupressão não devem tomar vacinas contendo vírus vivo, mas felizmente todas as opções disponíveis contra a Covid-19 aprovadas até o momento contêm apenas vírus inativo ou partículas virais.
É importante lembrar: se a doença oncológica estiver em atividade ou se o paciente fizer uso de tratamento que cause imunossupressão, ele faz parte do grupo de risco para complicações da Covid-19. Se necessário, ele deve pedir ao seu médico um atestado descrevendo sua condição de saúde para que sua vacinação seja priorizada. Somente após a vacinação em massa da população será possível diminuir as restrições, mas até que este momento chegue, é essencial manter as medidas de prevenção e o contato constante com o médico oncologista, para que o tratamento do câncer seja conduzido da melhor maneira possível.